Recentemente a NIT publicou um artigo sobre BLW que me deixou algo decepcionada. Sou defensora do método mas também não sou fundamentalista e aceito que existam outros pontos de vista e outras opções correctas para cada família. Mais do que defender um método de introdução da alimentação complementar, defendo o RESPEITO pelos nossos filhos. Ainda em relação ao artigo em questão, percebi que o artigo da NIT não reflectia a pesquisa e argumentos defendidos pela Dra. Ana Tavares. Se tiverem curiosidade, podem espreitar o artigo em questão "Afinal, o baby led weaning é perigoso ou não?". De seguida deixo-vos as considerações gerais sobre baby led weaning decorrentes da pesquisa e actualização levados a cabo pela Dra. Ana Tavares, Médica Pediatra no Hospital de Cascais. Qualquer semelhança entre os dois artigos é pura ficção.
Obrigada Dra. Ana Tavares pela visão neutra com que olhou para o BLW. O caminho faz-se caminhando e acredito que o BLW nos trará a todos novas visões e reflexões sobre a alimentação infantil.
Considerações gerais sobre Baby Led Weaning
A recomendação da OMS para prolongar o aleitamento materno exclusivo até aos seis meses de vida, no ano de 2002, veio trazer novas considerações em relação à forma como introduzimos os sólidos na alimentação das crianças. Aos seis meses a função renal e a capacidade digestivas da criança são mais maduras e há uma evolução considerável do desenvolvimento da manipulação e da oralidade que permite, nesta fase, a manipulação e mastigação de sólidos.
Se existe muita literatura a corroborar as vantagens do aleitamento materno exclusivo até aos seis meses, é dada pouca atenção à forma como devemos recomendar a introdução de sólidos agora que ela começa mais tarde.
Tradicionalmente, a introdução de sólidos passa pela exposição progressiva a alimentos de textura mais complexa, inicialmente sopas ou purés, seguindo-se a comida esmagada e apenas mais tarde, entre os 8-9 meses para os mais afoitos, a comida em pedaços para ser manipulada e mastigada.
O baby led weaning, desmame conduzido pelo bebé, é uma corrente que defende a introdução dos sólidos inteiros a partir dos seis meses e manipulados unicamente pela criança. A maior parte das linhas orientadoras em vigor nos países desenvolvidos recomendam a introdução de comida manipulada pela criança a partir dos seis meses mas apenas como parte da alimentação. No baby led weaning que tem ganho muitos adeptos nos últimos anos são indicadas as seguintes premissas:
- Amamentação exclusiva até aos seis meses e, mesmo que esta não se verifique, a introdução da alimentação complementar deve ser adiada até aos seis meses. Depois da introdução dos sólidos deve manter-se o leite materno ou adaptado em livre demanda.
- Guiado pelo bebé – o bebé “alimenta-se” sozinho desde a introdução da alimentação complementar, os purés e as sopas ficam desde logo excluídos pela incapacidade que a criança tem de manipular a colher. Algumas famílias podem oferecer utensílios como colheres às crianças para que estas tentem comer comida mais mole - como os iogurtes ou sopas - mas isto deve ocorrer apenas nos primeiros meses e para estimular o desenvolvimento.
- Comida da família – é oferecida à criança a mesma comida que a família consome mas sob forma manipulável, isto é, em pedaços que a criança possa agarrar e levar à boca. O tamanho certo será aquele em que o alimento é envolvido pela mão da criança ficando com as extremidades expostas. Com o tempo, os pedaços podem diminuir de tamanho.
- Tempos de refeição – a criança deve comer ao mesmo tempo que o resto da família.
Ainda que o baby led weaning esteja a receber considerável atenção mediática e da comunidade médica, não é uma recomendação da comunidade médica e das sociedades de pediatria como única forma de introdução dos alimentos.
As vantagens desta prática avançadas pelos seus defensores e demonstradas em alguns estudos recentes (ainda escassos para serem aceites como incontestáveis) são a redução do risco de obesidade - uma dieta guiada pelo bebé respeitaria as suas reais necessidades alimentares e evitaria qualquer excesso alimentar imposto pelos pais- , a melhoria da qualidade da dieta – uma alimentação mais diversificada e com menor utilização de comida processada-, melhoria das praticas alimentares dos cuidadores – menos imposição de quantidade ou qualidade de comida- e uma maior estimulação das capacidades motoras e de coordenação olho mão da criança.
A desvantagens deste tipo de alimentação estão, igualmente, pouco exploradas do ponto de vista científico e metódico.
Risco de ferropénia (falta de ferro)
Durante a gravidez a mãe disponibiliza ao seu bebé uma quantidade de ferro suficiente para os primeiros seis meses de vida. A falta de ferro é o défice nutricional mais comum na infância e tem como consequências a anemia que pode estar na génese de um défice cognitivo por vezes irreversível. A maior parte das vezes os alimentos introduzidos pelo método BLW são vegetais e frutas pobres em ferro. Este problema pode ser contornado oferecendo carne em pedaços que possam ser manipulados e mastigados pelos bebés. Contudo, a maior parte dos pais evita a carne e o peixe pelo medo de engasgamento.
Risco de engasgamento
Os engasgamentos podem ocorrer de forma relativamente fácil no pequeno lactente. Existe um perigo efectivo de asfixia associado ao inicio da diversificação alimentar. Existem poucos estudos que comparem o método clássico de diversão com o BLW mas aparentemente os episódios de engasgamento são sobreponíveis nos dois métodos. Os defensores do BLW recomendam: as crianças devem estar sempre acompanhas de um adulto quando comem, provar os alimentos antes de os oferecer garantindo que a consistência dos alimentos, cozinhados permite que se desfaçam na boca (a maioria as crianças tem dois dentes aos seis meses) ou sejam suficientemente fibrosas ou grandes para que não se partam quando são sugados ou esmagados, evitar comidas que formem migalhas na boca, garantir que os alimentos oferecidos são do comprimento do punho da criança, garantir que a criança está sentada direita e não inclinada para trás, não deixar ninguém que não seja a criança introduzir sólidos na boca.
Evitar comidas que não se consigam esmagar entre a língua e o céu da boca, alimentos pequenos como as nozes, uvas, doces, Vegetais crus, maça crua, cenoura crua, salsichas e cenouras (ou qualquer outros alimento) cortado em rodelas pequenas.
Compromisso do crescimento
Apesar do aporte calórico ser garantido na primeira infância pelo leite materno as comidas completares desempenham um papel relevante. A comunidade medica receia que o bebé não tenha a capacidade física e a vontade de se alimentar para satisfazer a suas necessidades alimentares efetivas. Existem apenas dois estudos que abordam este problema tendo sido sugerido nos mesmos que havia uma maior prevalência de baixo peso no grupo BLW. Nada obstante, são estudos preliminares e que não permitem uma interpretação definitiva dos resultados.
Em resumo, existem ainda algumas perguntas sem resposta para o BLW:
- Qual o real impacto no crescimento?
- As crianças consomem a quantidade suficiente de micronutrientes, como o ferro?
- Vai afectar a qualidade da dieta?
- Vai alterar os comportamentos alimentares dos pais?
- É seguro?
- É aceitável para os pais?
Estão a decorrer alguns estudos que responderão a pelo menos parte destas questões; até que os resultados finais estejam disponíveis sugere-se aos pais que consultem os médicos assistentes e se informem sobre a segurança e adequação nutricional do método.
Sugiro ainda a consulta de sites como:
http://www.preeposparto.com/preeposparto/homepage.ph
Com informações e workshops sobre o tema.
E o livro "Comer Bem, Crescer Saudável" de Joana Appleton Figueira e Joana Moura
A Dra. Ana Tavares é Neonatologista no Hospital de Cascais e podem ainda encontrá-la na Clínica Pragal Médica (em Almada) e na Clínica Quadrantes (em Miraflores).